Meio a meio

Por Carlos Pereira


Hoje o sol brilhou. Mas apenas metade da minha alma foi iluminada. Os anseios eram incompletos, as expectativas parciais e os desejos desiguais. Tanta diferença causou apatia. O calor do astro rei tocava apenas parte do meu rosto. Sentia por um momento que nada fazia sentido. O todo havia de ser melhor do que o meio. Portanto, parte de mim era luz e a outra parte escuridão.

Orientação era uma coisa que faltava. Como saber o melhor lado? Como partir a vida em duas? Dúvidas comuns para quem estava tomado por uma energia natural que dividia por dois o entendimento de algumas emoções. O sol trouxe para mim naquela manhã a incerteza. Fiquei feliz, já que certeza é uma coisa que inexiste. A infelicidade foi descobrir a falta. A falta de certas coisas. O meio não havia de ser satisfatório.

Meio a Meio. A sensação era estranha. Achava-me um ser de duas caras e dois corações. Tentei enganar o sol e enfiei um boné em minha cabeça. Em vão. Continuava a perpetuar dentro do meu corpo o poder da duplicidade. Não sei, mas acho que o sol foi a desculpa encontrada para reverter um estado de estar. Estar vivendo de forma errada e priorizando um lado da alma.

O entendimento de mim mesmo fez com que eu entendesse a metáfora formulada por minha mente. Aliás, por minha mente e por meu coração. Já que ambos necessitavam do todo. E, como já disse, o meio não havia de ser satisfatório. A cura para a falta de luz foi me render ao lado escuro, que por significado pessoal é melhor. A luz cega. Por fim, escolhi o todo da escuridão. E ganhei um eclipse como recompensa pela tomada de decisão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário